A prisão de um conhecido cantor de funk brasileiro sob a acusação de incitar o crime em suas letras e uma suposta conexão com uma grande gangue criminosa provocou indignação entre artistas, intelectuais e especialistas jurídicos.
MC Poze Do Rodo, 26, que tem 5,8 milhões de ouvintes mensais no Spotify, foi preso no início da quinta -feira em sua casa em um condomínio de luxo na zona oeste do Rio de Janeiro.
O protetor se concentrou na maneira como o artista foi detido por supostas ofensas não violentas: algemadas, sem camisa e descalço. As filmagens da prisão foram transmitidas repetidamente na televisão e espalhadas pelas primeiras páginas dos jornais brasileiros.
“Isso é perseguição [against me].
Ativistas dizem que o caso é o exemplo mais recente da criminalização da música funk – e, por extensão, da cultura negra; Algo que os pesquisadores argumentam tem sido uma característica sistêmica da sociedade brasileira desde a abolição da escravidão em 1888.
Como a maioria dos artistas de funk brasileiros, Mc Poze – nascido Marlon Brendon Coelho Couto da Silva – é preto e criado em um favela.
Ele ganhou destaque em 2019 e, desde então, conseguiu músicas que descrevem a vida cotidiana nessas comunidades, incluindo algumas faixas que referenciam abertamente o tráfico de drogas.
Em uma entrevista à TV Globo no ano passado, ele admitiu que, quando adolescente, ele havia trabalhado para o comércio de drogas: “Eu estive em tiroteios, fui baleado e fui preso também”. Mas ele insistiu que havia deixado a vida para trás e que seu objetivo era enviar jovens a mensagem de que “o crime não leva a lugar algum”.
Na quinta -feira passada, a polícia justificou sua prisão alegando que estava “claramente glorificando o tráfico de drogas e o uso ilegal de armas de fogo” em suas letras, e que seus shows estavam sendo financiados por uma das duas principais gangues criminais do Brasil, o Comando Vermelho (Comando Vermelho).
O chefe de polícia, Felipe Curi, até alegou que as letras de MC Poze eram “muitas vezes muito mais prejudiciais do que um tiro de espingarda por um traficante de drogas”.
De acordo com Pierpaolo Cruz Bottini, professor de direito penal da Universidade de São Paulo, não há incitação ao crime nas músicas de MC Poze. “Não há intenção de promover ou defender atos criminosos – as músicas pintam uma imagem vívida de uma realidade que todos já estão cientes.”
Bottini disse que a maneira como o cantor foi detido – sem poder se vestir ou até colocar sapatos – era “completamente inapropriado”.
“Mesmo em casos de crimes violentos, esse tratamento só seria justificado se houvesse sinais de resistência ou um risco de voo – e esse claramente não fosse o caso”, disse ele.
Após a prisão, outros artistas de funk foram às mídias sociais para protestar em solidariedade. Outro cantor de destaque, MC Cabelinho, apontou que, quando um ator em novela ou um filme retrata um personagem envolvido no tráfico de drogas, ele não é visto como incitando o crime.
De acordo com o antropólogo Mylene Mizrahi, professor da Universidade PUC do Rio, os artistas de funk ainda não são considerados artistas legítimos.
“Eles são artistas pop, assim como nós, rappers ou cineastas de Hollywood. Mas quando alguém como Martin Scorsese faz um filme da máfia, eles não são mafiosos de marca”, disse ela.
O advogado Joel Luiz Costa, diretor executivo do Instituto de Defesa da População Negra, disse: “A criminalização do funk faz parte de um longo processo histórico que começou após a abolição da escravidão e anteriormente direcionado sambaAssim, Capoeira e religiões afro-brasileiras.
“Há um padrão claro de criminalizar a cultura negra”, acrescentou. “Como eles não podem simplesmente proibir o preto, eles têm como alvo algo associado à comunidade negra”.