Criança que fraturou crânio ao cair de telhado volta para casa: 'medo era de perder pra morte', desabafa mãe




A mãe e dona de casa Lilian Vitro, de 35 anos, passou por momentos de angústia nas últimas semanas, depois que seu filho de 12 anos caiu do telhado de uma casa em Jaru (RO), enquanto tentava buscar uma pipa.


O acidente aconteceu no dia 3 de março, em uma casa no Residencial Jardim Europa, Linha 627. No acidente, o menino fraturou o crânio, o braço direito, duas costelas e ainda ficou com um coágulo na cabeça.


Ao g1, a mãe contou que Heberth Rafael Felipe Vitro estava brincando em frente a sua casa, quando a pipa passou caindo do céu. Sem que ela percebesse, o menino saiu de casa e correu atrás do objeto.


Conforme relatos ouvidos por ela, a pipa caiu no telhado de uma casa próxima a sua e quando tentava alcançar o brinquedo, o garoto acabou caindo. Ela conta que só soube o que aconteceu quando a vizinha, dona da casa onde a pipa caiu, acionou o Corpo de Bombeiros e chamou a mãe.


Depois da queda, Heberth foi levado ao Hospital Municipal de Jaru, mas devido a gravidade do acidente, ele teve que ser encaminhado ao Hospital de Emergência e Urgência de Rondônia (Heuro), em Cacoal (RO), onde recebeu atendimento de neurologista e ortopedista.


Lilian conta que o filho precisou passar por cirurgia e levou alta apenas no dia 7 de março, quatro dias depois do acidente.


Sem anestesia


Além de todas as fraturas e machucados, o jovem Heberth precisou passar por uma cirurgia ortopédica sem anestesia. Após uma tentativa sem sucesso e devido a gravidade da condição do menino, os médicos decidiram realizar o procedimento sem a medicação.


"Quando foi aplicada a primeira anestesia, eu via meu filho morto em cima da cama. Eu falava com ele, mexia e ele não me respondia, só vomitava dormindo e vômito dormindo pode levar a óbito a qualquer momento. Por isso não quiseram mais fazer a cirurgia aplicando a anestesia, porque o organismo dele não aguentava. Nem o neuro, nem o ortopedista quiseram arriscar", explicou a mãe.


Héberth Vitro passou por cirurgia no braço sem anestesia, devido a gravidade de sua condição — Foto: Arquivo Pessoal


Héberth também precisava passar por cirurgia para remover o coágulo da cabeça, mas os médicos decidiram remover por meio de medicamentos. Segundo a mãe, ele está tomando remédios para dissolver o coágulo e caso não aconteça em 30 dias, terá que fazer uma drenagem.


Lilian conta que o garoto se recupera bem e deve passar por uma nova análise com o neurologista em duas semanas, para saber a situação do coágulo.


'Milagre de Deus'



Buscando um milagre na vida do filho, Lilian decidiu fazer uma promessa à Deus, na condição que Héberth saísse do hospital com vida.


"O sentimento de mãe nessa hora é o medo de perder pra morte. A sensação de impossibilidade é muito grande, porque enquanto eu estive no hospital, amigos, familiares e parentes me mandaram mensagens perguntando se eu estava precisando de dinheiro, mas na verdade eu não estava. Eu estava precisando só de um milagre de Deus", desabafou a mãe.


"E eu fiz um voto pra Deus, que se meu filho saísse do hospital, eu faria um dia de ações de graças com muita comida e brinquedo para crianças e uma palestra de orientação de como é ruim o sentimento de perda", explicou.




Lilian Vitro cumpriu promessa e fez o dia de ação de graças em comemoração a saúde do filho — Foto: Arquivo Pessoal


O dia de ações de graças aconteceu no último sábado (12), com a ajuda de familiares, vizinhos, amigos e moradores da cidade que se sensibilizaram com a história. Como prometido, a mãe, com a ajuda de uma advogada sobre os direitos das crianças, realizaram uma palestra e além disso, a comemoração também contou com a presença de uma uma missionária.


"Graças a Deus eu não perdi meu filho, mas o sentimento de perda com certeza na hora bateu no meu coração", disse a mãe.


Alerta aos pais



Pipa no céu — Foto: Arquivo/AEN


O caso de Heberth repercutiu na vizinhança e nas redes sociais, evidenciando os riscos que as crianças enfrentam em determinadas brincadeiras.


No Brasil, a queda ainda é um dos principais motivos de internações de crianças de zero a 14 anos, e foi responsável por 45% dos acidentes envolvendo essa faixa etária em 2017, segundo o Ministério da Saúde (MS).


A nefrologista pediatra, Rachel Souto, explicou ao g1 que os riscos de quedas de crianças se diferem em cada faixa etária, devido as características físicas e comportamentais, mas não diminuem com o tempo.



No caso dos menores de 1 ano, os acidentes comuns são quedas da cama, mau uso de andadores e brinquedos não adequados para idade.


Já entre 10 e 14 anos, faixa etária de Herbeth, o mais preocupante são as quedas em ambientes externos, como da árvore, muros e telhados. Segundo a especialista, nesse período, as crianças não possuem entendimento adequado dos riscos que correm, por se interessarem mais por aventuras e grandes emoções, além de já terem conquistado certa independência dos pais.


A orientação da médica aos pais é a de que as crianças devem ser supervisionadas a todo tempo, levando em consideração que os riscos de acidentes domésticos são grandes, mas podem ser evitados.


Para Lilian, mãe de Heberth, o conselho é que crianças devem ser incentivadas a brincar, porém devem ser educadas quanto aos perigos.


"Meu conselho de mãe e pai, porque sou mãe e pai dos meus filhos, é de que nunca proíba seu filho de ser criança, mas sempre alerte ele sobre os perigos. Porque ser criança é um desafio, mas ser mãe é um desafio muito maior, diariamente, todo segundo. Meu filho caiu do telhado atrás de pipa, mas ele podia ter se machucado na escola, ou em qualquer lugar", falou.



G1