Antigo prédio do necrotério da Capital desperta medo e curiosidade


Os personagens dessa reportagem são reais, no entanto, alguns pediram para que seus nomes não fossem divulgados por isso vamos usar codinomes em algumas situações

Vera tinha mania de debochar dos colegas quando o assunto era sobre fantasma ou vultos que teriam sido vistos no local de trabalho. Dizia que o povo devia se preocupar era com quem está vivo e não com os mortos.


Já havia passado das 23h00 e Vera estava de plantão no abrigo Santa Clara, que depois virou Hospital Tropical, quando escutou um barulho em um dos quartos. Parecia ser alguém conversando com outra pessoa. Achou estranho, pois, o som veio de uma ala onde havia apenas um paciente internado por quarto. Intrigada ela foi ver o que estava acontecendo. Encontrou duas pessoas no quarto.


AJUDA


Um senhor de idade, quase sem forças para levantar da cama, era quem havia chamado por ajuda pois uma paciente a poucos metros dele tinha deixado cair a máscara de oxigênio e estava desacordada tendo falta de ar. Imediatamente, Vera recolocou o equipamento na idosa e foi procurar o médico de plantão.


Quando ela e o médico entraram no quarto encontraram a senhora de idade um pouco sonolenta, mas já respirando com mais tranquilidade. Depois de algum tempo Vera percebeu que apenas a idosa estava no local e perguntou pelo paciente que estava ao seu lado.


A idosa respondeu que Vera estava equivocada, pois não havia ninguém além dela no quarto. Nessa momento, a enfermaria falou o que tinha acontecido e informou as características do homem que conversou com ela. A idosa arregalou os olhos e disse que Vera estava falando de alguém muito parecido com o marido dela que já estava morto há mais de 20 anos.


LÁGRIMAS



Vera não conseguiu segurar a emoção ao me contar essa história e começou a chorar. Disse que o médico e essa paciente já morreram há bastante tempo e ela sempre procurou manter esse relato somente entre pessoas muito próximas, por temer virar motivo de piada. Logo ela, que sempre debochou de quem se aventurava a contar ”bobagens” sobre fantasmas.


Hoje, Vera diz que é evangélica, mas respeita qualquer pessoa de outras religiões que tenha passado por situação semelhante à dela ou que afirmem já ter visto algo sobrenatural. No templo onde vai ela diz que nunca quis comentar sobre o que aconteceu e prefere seguir em frente tão somente crendo em Deus. “Para mim isso já basta”, finaliza ela após tomar um copo de água doce.



BARULHO NO CORREDOR



Outra ex-funcionária do Hospital Tropical, que não quis se identificar, também conta situações que deixavam os funcionários de cabelo em pé. Diz ela que durante um plantão não havia pacientes internados, mas foram ouvidos barulhos de equipamentos de soro sendo arrastados pelo corredor.


O pavor era tanto que ninguém se arriscava a sair do local onde estavam para ver o que estaria provocando o barulho. A servidora, que ainda continua trabalhando em uma unidade de saúde da capital, afirma que era comum ouvir o som das descargas sendo acionadas nos banheiros. No entanto, quando alguém ia ver o que estava acontecendo não encontrava ninguém.


A servidora relata ainda que certa noite um servidor estava dormindo no local, com a porta trancada a chave, quando sentiu uma mão gelada em seus pés. O rapaz entrou em choque e nunca mais quis tirar plantão no hospital.


GEMIDO, NOIVAS E LUZES PISCANDO


O Policial civil, Abidias Neto Azevedo, foi um dos primeiros servidores da Segurança Pública a trabalhar no local após o lugar mudar de hospital para delegacia. Ele, que permitiu fotos e a identificação, disse que não acreditava em nada que não fosse “desse mundo” até o momento em que começou a se defrontar com coisas “estranhas”.

Abidias Neto Azevedo- Policial Civil aposentado


A primeira delas aconteceu, durante um plantão, por volta de uma hora da madrugada. Primeiro vieram relâmpagos, depois trovões, muita chuva e em seguida faltou luz. Quando a chuva acalmou Abidias, que estava sozinho na delegacia, começou a ouvir gemidos e barulho de coisas caindo.


Ficou intrigado, garante que não se assustou, olhou para o revólver na cintura, conferiu se estava bem carregado e permaneceu quieto, exatamente no local onde estava e ali ficou até o dia amanhecer.


Não acreditava em coisas sobrenaturais mas não moveu uma palha para ver do que se tratavam os barulhos. “Fui ver nada, estava escuro demais e desde criança eu sabia das histórias do local. Se viessem para onde eu estava eu estava preparado. Agora ir lá conferir o barulho, nem pensar”, explica ele com veemência. No dia seguinte foi ver se havia algo no chão e não encontrou nada.


NOIVAS

Em outra situação, Abidias conta que foi fazer uma ronda e deu de cara com duas mulheres vestidas de noiva em cima de um muro. Ficou paralisado e mudo pois elas pareciam transparentes. “Essa situação durou alguns segundos que pareceram eternos. Eu só voltei ao normal quando as duas viraram as costas e foram embora”, conta ele, afirmando que nunca vai conseguir saber quem eram as noivas.


Em um outro momento, Abidias afirma que um colega também foi testemunha. Ele estava fazendo uma ronda quando reparou que em um pátio lotado de sucatas antigas de carros um veículo estava com faróis acesos e piscando as luzes. Diz que chamou um colega e os dois comentaram que os carros velhos não tinham bateria. Avaliaram a situação, deram meia volta e retornaram para a sala do plantão. Até hoje não tem nem ideia do que teria feito as luzes do automóvel piscarem.


ANO PASSADO


Waldenor Castro, chefe da investigação na Delegacia de Homicídios, que também permitiu ser identificado, diz que ano passado estava sozinho na delegacia terminando um relatório quando de repente um homem vestido com bermuda clara e camisa azul sentou ao seu lado. Ele afirma que continuou trabalhando e não deu muita atenção para o “visitante” pois tinha urgência para entregar o que estava fazendo. Após terminar o trabalho Waldenor garante que olhou para o lado e não havia mais ninguém sentado na cadeira. Ficou intrigado, sentiu um arrepio no corpo e tratou de sair do local o mais rápido possível.



Waldenor Castro- Chefe de Investigação Delegacia de Homicídios


Todas essas histórias misteriosas, intrigantes e sobrenaturais teriam acontecido no mesmo lugar. Não há nada no local que permita uma boa impressão. Do lado de fora paredes sujas, mofadas, úmidas, descascadas, sem vida, tristes como o próprio ambiente revela. Uma das salas, a mais escura, com 04 vidros quebrados, não aguça a curiosidade para se chegar mais próximo e ver o que pode haver lá dentro.


Quem sabe o que ali já foi um dia não se aproxima, quem não conhece se contenta em olhar de longe. Dizem que, por questões de saúde, as salas foram trancadas há muito tempo e ninguém lembra o que havia lá dentro se é que tenha sobrado algo além da lembrança do cheiro insuportável que podia ser sentido em todo o prédio.


Na sala ao lado, o ambiente é menos feio, mas não menos assustador. Duas janelas foram abertas para arejar não se sabe o que. Uma placa identifica a interdição de ambas as salas e ninguém sabe, nem nunca se interessou em saber, quem tem as chaves dos cadeados que podem permitir a abertura das portas.



Oficialmente as duas salas foram interditadas porque eram o necrotério do antigo Hospital de Doenças Tropicais da Amazônia. O hospital atendia pacientes com Hanseníase. Antes dos anos 70 a doença era conhecida como Lepra. O alto poder de ação do bacilo causador da doença, com capacidade para infectar um grande número de pessoas, acabou criando um clima de preconceito em relação à Hanseníase.


Um dos estigmas era de que se uma pessoa morresse de Lepra todo o ambiente onde ela teria ficado precisava obrigatoriamente ser desinfetado. Segundo especialistas em doenças infectocontagiosas isso não é verdade. Mito ou não, as duas salas onde funcionavam o necrotério foram trancafiadas e nunca mais ninguém falou em abri-las.


No prédio onde era o hospital, hoje funcionam 03 delegacias da Polícia Civil - Patrimônio, Furtos e Roubos de Veículos, além da Homicídios. Só há uma garagem que fica exatamente no local onde chegavam as ambulâncias trazendo pacientes vivos ou já em estado terminal.

Antigo Hospital Tropical da Amazonia

Uma escadaria dava acesso às dependências do hospital e na parte de baixo, ao lado da garagem, é onde estão localizadas as duas salas do antigo necrotério. Ninguém deixa carro estacionado aqui e nenhum servidor sabe explicar o motivo.


Durante a produção da reportagem, no período da manhã, por 03 dias, só foi possível observar a presença da cachorrinha Ciça deitada estirada e bem à vontade no chão frio da garagem. No entanto, segundo delegados e agentes da DP, curiosamente ninguém encontra Ciça dormindo a noite por esses lados. Por que será???


Cadela Ciça


RONDONIAOVIVO - CÍCERO MOURA