Após ligação de Michelle Bolsonaro, blogueira mirim dobra número de seguidores e de críticas



A pequena Alice Ferreira, de três anos, já estava acostumada a ser famosa em sua cidade natal, Ariquemes, distante 200 km de Porto Velho (RO), por recriar mais de 50 looks de famosas no Instagram. Porém, uma ligação da primeira-dama Michelle Bolsonaro alavancou a carreira da menina, após recriar o vestido usado na posse do presidente Jair Bolsonaro. 


Desde então, a blogueirinha fechou mais parcerias com lojas da região e duplicou o número de seguidores. Mas junto com a fama também vieram ainda mais críticas à mãe dela, a enfermeira Ana Rita Ferreira, de 32 anos.

“Falam que torturo a minha filha, que a exploro, que ela não tem infância… como se eu ganhasse algum centavo com isso. Nunca quis cachê, só roupa para a minha filha. E são críticas que outras blogueiras mirins também recebem. A foto não leva cinco minutos para ser tirada e não tem como forçar ela a fazer nada. É uma crítica pior que a outra e piorou muito depois da repercussão com a Michelle Bolsonaro”, conta Ana ao Yahoo.

A ligação da primeira-dama


Tudo começou quando a enfermeira encomendou dois looks da esposa de Bolsonaro e a marcou nas fotos, como costuma fazer com as demais famosas, até que Michelle começou a seguir Alice e fez um comentário, explica Ana Rita.


“Quando cheguei em casa apareceu a imagem dela no Instagram querendo fazer vídeo-chamada. Fiquei tão nervosa que nem lembrei de fazer um print. Foi a Michelle que falou para eu fazer o print e conversou comigo, dizendo que a minha filha era muito fofa. A Alice nem deu muita bola porque não a conhecia. Ela só conhecia a figura do Bolsonaro porque o via na televisão. Aí a Michelle chegou perto dele e ela deu risada e mandou beijo”, lembra Ana, que foi aconselhada pela primeira-dama a registrar a cena e reproduzir nas redes sociais.

Após a ligação, a enfermeira seguiu as dicas e publicou as imagens nas redes dobrando o número de seguidores para 26,1 mil. No último sábado (12), a conta possuía apenas 12 mil.

“Vou recriar mais um look da Michelle para fechar com chave de ouro. Já fiz o pedido para a costureira, mas não sei quando ficará pronto porque agora tudo está mais corrido. Já tínhamos três parcerias na cidade e duas em municípios próximos. Depois da repercussão, fechamos mais cinco. A ligação da Michelle mudou totalmente o nosso roteiro”, diz.

Adultização e erotização da criança

A enfermeira relata que a menina usava recriações de looks de famosas como as apresentadoras Livia Andrade e Aline Riscado, que se vestem com roupas mais sensuais, o que resultava em acusações de que estava erotizando a criança.

“Me bombardearam! Tomo cuidado em fazer decotes menores e nunca teve nada que mostrasse demais o corpo, esse tipo de coisa. Mas parei com esse tipo de roupa. Rebatia os comentários maldosos, mas hoje evito. Já as mais pesadas, bloqueio ou denuncio. Pensei em desistir, mas a minha família sempre me apoiou. Estou calejada já. Ela é uma criança normal como as outras e não usa os looks no dia a dia. Alice é mais conhecida na cidade do que eu que vivo aqui desde que nasci”.

Estreia aos oito meses


Ainda grávida, a Ana Rita admirava fotos de crianças digitais influencers. A conta do Instagram era dela quando começou a tirar fotos de Alice aos oito meses de idade. No início, eram ‘fotos normais’ de uma mãe exibindo a filha nas redes, até que teve a ideia de reproduzir um macacão preto usado pela atriz Cleo Pires na garota.

“Pedi para uma amiga costureira fazer um do tamanho da Alice só para tirar a foto. Uma outra costureira do bairro propôs uma parceria — ela produziria as roupas em troca da divulgação do trabalho dela. Continuamos assim até o ano passado, quando ela adoeceu. Agora, estou com outra pessoa porque não costuro”, conta.

As fotos começaram a fazer sucesso e chamar a atenção de lojas. Além da primeira parceria, Ana Rita fechou com outras lojas da cidade que cediam roupas infantis, fantasias, laços e sapatos. 

“Nunca recebi cachê. Se a loja quer usar a imagem da minha filha, o mais justo é fornecer as peças. E assim foram vários looks. Sempre reproduzindo os que eu mais gostava. Foram mais de 50 looks de celebridades”.

“Cada peça demora cerca de três dias para ficar pronto, desde a ideia do modelo até a foto publicada. Depois do uso, o modelo é doado para crianças carentes ou conhecidos, conta Ana Rita.

Famosas como Camila Pitanga, a ex-BBB Vivian Amorin, Giovanna Ewbank e até a socialite americana Paris Hilton já curtiram e comentaram as fotos de Alice. Atualmente, a mãe decidiu focar apenas nas parcerias. 

“Fiquei um ano sem fazer looks de famosas, só fazendo fotos de roupas comuns de crianças em parcerias com lojas da cidade e dos arredores. Até que os próprios seguidores começaram a pedir para recriar o vestido da Michelle”.

Em algumas fotos, Alice aparece posando com faixa de “Miss Rondônia Baby” e “Miss Ariquemes Baby”. Ana Rita explica que a menina recebeu convites para participar destes dois concursos, mas decidiu parar por aí. 


“Ela recebeu as faixas para representar a cidade e o Estado. Não foi desfile nem nada. Não quis que ela continuasse porque o “Miss Brasil Baby” é bem maior, exige ensaios, maquiagem, arrumar cabelo e não gosto disso. Só se ela quiser quando crescer. Quero sempre o bem dos meus filhos — ela também é mãe de um menino de 12 anos e uma menina de 10”.

Até que ponto a vida de blogueira mirim é saudável?


Ana Rita afirma que a filha vê tudo como brincadeira porque se diverte durante a sessões de fotos. Porém, para a psicanalista e psicoterapeuta infantil Ana Olmos, vestir uma menina tão nova com roupas de adulto pode ser prejudicial ao desenvolvimento emocional e cognitivo da criança.
“Isso não é brincadeira de maneira nenhuma porque envolve troca. Brincar é a criança pegar a roupa ou o sapato da mãe e fingir que é adulta. A forma como essa mãe está trabalhando com a filha é publicidade e atinge outras crianças, que vão atormentar os pais querendo aquela roupa. A diferença é que a família não recebe em espécie, mas em peças”.

Ainda segundo a especialista, expor crianças a propaganda, seja fazendo ou consumindo, não é saudável em nenhum grau porque a criança é um ser em formação e não um consumidor em potencial.

“As lojas estão usando a imagem de uma criança para vender seu produto. É claro que a mãe não faz por mal, mas isso é adultização e erotização da criança porque a roupa é de adulto. Quando somos crianças, estamos construindo a nossa percepção do que é ser adulto e a maneira como se vê a vida. Essa menina está tendo um modelo mercantil dentro de casa. A criança é uma esponja e absorve tudo”, explica.

A psicanalista ainda afirma que o fato de imitar adultos tende a interferir no desenvolvimento natural, tanto do ponto de vista emocional quanto cognitivo. 

“Ela não vai querer parar, só vai ampliar a gama de produtos. A falta dessa rotina é pequena perto do estrago estrutural de ela achar que só é bonita se tiver determinado tipo de roupa e, quando não puder ter acesso, vai se desqualificar. Isso é muito mais grave”, alerta.

Fonte: Yahoo Notícias