Vídeos: Dez dias após tragédia, família, amigos e testemunhas relembram desespero para salvar vidas

Vídeos: Dez dias após tragédia, família, amigos e testemunhas relembram desespero para salvar vidasMarta Pereira não resistiu. O marido dela, Márcio, ainda está hospitalizado (Foto: Reprodução Facebook)
Dez dias após o ataque a golpes de facão praticado por Edinei Ribeiro que deixou 10 pessoas feridas e uma morta em Porto Velho, testemunhas, amigos e conhecidos das vítimas relatam os momentos de agonia e desespero que presenciaram no final da manhã do último dia 1º de novembro. Ninguém conseguiu entender o que aconteceu, mas a correria para tentar salvar as vítimas ainda permanece viva na memória.
Desde o dia da tragédia, o RONDONIAGORA noticiou todos os fatos relacionados e acompanha diariamente o estado de saúde das sete vítimas que ainda permanecem internadas no Hospital João Paulo II e Hospital de Base, na Capital.Os ataques praticados por Edinei ocorreram em diversos bairros na Capital. Ele saiu de sua residência, no Bairro Três Marias, em um carro modelo Fiat Uno e atacou as 11 vítimas aleatoriamente em vários bairros, entre eles Porto Cristo, Renascer, Fortaleza, Mariana e Airton Sena, até retornar para casa onde foi baleado pela Polícia Militar. Edinei morreu no Pronto-Socorro João Paulo II.
Amizade entre vítima e agressor
Dentre as vítimas, Marta Rodrigues Pereira, de 27 anos, não resistiu aos ferimentos e morreu minutos após dar entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA). A comercianete Juliete Lins, 29 anos, lembra da amiga e vizinha com muita saudade. “Ela sempre foi uma pessoa alegre e extrovertida. Nunca demonstrou medo ou que estava sendo ameaçada por ninguém. No dia que tudo aconteceu, meu filho chegou desesperado me avisando e quando eu saí encontrei o marido dela todo ensanguentado na frente da casa. Marta estava caída dentro da casa e foi socorrida às pressas para a UPA. Eu nunca tinha visto uma situação daquela, e o pior, acontecendo com uma amiga minha”, relata a comerciante.
Marta morava em Porto Velho há aproximadamente 12 anos. Ela veio do município de Presidente Médici para a Capital acompanhada de seu ex-esposo, Antoniel Nunes da Silva, que na época eram namorados. Após a separação, Marta conheceu seu atual esposo Márcio Dias Souza, de 33 anos, com quem vivia junto há aproximadamente 4 anos. Márcio também foi vítima de Edinei Ribeiro.
Vítima e agressor também eram amigos. Os dois se conheceram na igreja onde congregavam e mantiveram uma amizade que durou cerca de 5 anos, até ela ser morta pelo próprio amigo. Moradores da localidade disseram que Edinei era um homem prestativo e ajudava Marta quando era solicitado. O criminoso chegou a ajudar na construção do muro da residência da vítima e a cavar a fossa no quintal da casa a pedido dela.
No dia do crime, Edinei chegou à residência de Marta e Márcio dizendo que iria almoçar com eles. Sem saber o que o, até então, amigo pretendia fazer, Márcio abriu o portão e foi golpeado várias vezes por Edinei, que em seguida entrou na residência e esfaqueou Marta.
No momento em que fugia em seu veículo, o agressor atacou Otávio Rodrigues da Silva, de 9 anos, filho de Marta com Antoniel Nunes da Silva. Por sorte, a criança conseguiu escapar sofrendo apenas dois cortes leves. “Eu estava em casa quando meu filho chegou desesperado pedindo socorro dizendo que tinha sido atacado pelo Edinei. Quando eu sai para frente de casa, ele já tinha fugido e de imediato levei meu filho para receber atendimento médico, mas jamais imaginei que a Marta também tinha sido vítima dele e estava morta”, diz Antoniel bastante abalado. 
Ataque na Vila Mariana
Leandro Brandt, de 21 anos, presenciou o ataque a Gerson Rocha de Carvalho, 50 anos, a quarta vítima, em um comércio localizado na Rua Vila Mariana. Ele relembra que a vítima fazia uma entrega de iogurte no local quando foi surpreendida por Edinei. “Eu estava dentro do comércio quando avistei o homem descer do carro com um facão na mão e foi em direção a Gerson afirmando que ele teria agredido o filho dele. Sem reagir, a vítima foi agredida com um golpe no ombro e nas costas no momento que ele correu para escapar das agressões. Foi um momento de muita tensão e todos nós corremos para os fundos do comércio com medo”, destaca a testemunha.
A adolescente Rainara Erondina, de 16 anos, também presenciou Gerson Costa Rocha de Carvalho, de 50 anos, ser agredido. Segundo ela, após golpear a vítima, o criminoso invadiu uma borracharia e só não golpeou quem estava no local porque esbarrou em uma motocicleta. “Assim que o homem agrediu o vendedor de iogurte, ele acelerou o carro, parou em uma borracharia ainda na Vila Mariana e ordenou que todos colocassem as mãos para cima. Mas, um homem chegou pilotando uma motocicleta, o agressor esbarrou no veículo e foi embora se fazer nada com as pessoas que estavam no local”, conta a adolescente.
Mulher esfaqueada
O comerciante Raimundo Nonato foi quem prestou os primeiros socorros a Débia Batista Sena, 27 anos, que pediu ajuda em seu comércio localizado na Rua Capão da Canoa, Bairro Universitário. A testemunha disse que se preparava para almoçar quando escutou a mulher batendo na grade do comércio e, ao sair, ele se deparou com Débia ensanguentada pedindo socorro. “Eu tomei um susto muito grande ao ver aquela mulher ajoelhada nas grades do meu comércio pedindo para acionar o Samu e de imediato eu acionei. Eu perguntei quem tinha feito aquilo e ela disse que tinha sido um louco. Aquele dia ficou marcado em minha vida e todos os dias naquele mesmo horário eu me lembro de tudo o que aconteceu”, afirma o comerciante.
Débia foi atacada enquanto esperava o marido. Ela estava em uma moto e o homem chegou e a golpeou. A vítima conseguiu correr. Uma outra moradora do Bairro Fortaleza, Katiana da Silva, por pouco não foi uma das vítimas de Edinei Ribeiro. Ela se salvou porque um vizinho gritou para correr. Débia Batista Sena caiu na frente dela, toda esfaqueada. “Eu só pensava em salvar minha filha e fiquei parada, aí um vizinho gritou”. A mulher conta que Edinei estava furioso. 
Vídeos: Dez dias após tragédia, família, amigos e testemunhas relembram desespero para salvar vidasCasa onde Renato morava (Foto:Uil Cavalcante/Rondoniagora)
Renato Fernandes
Renato Fernandes, de 53 anos, foi atacado em casa na Rua São Lourenço. Ele foi a última vítima de Edinei Ribeiro. O amigo da vítima e comerciante, que se identificou apenas como Marcos, mora em frente à casa de Renato e testemunhou a agressão violenta. “Eu avistei o homem caminhado pela rua com um facão na mão, rapidamente entrei no meu comércio e fechei as portas. Quando eu estava subindo as escadas para o segundo andar, só escutei o barulho dele chutando a porta da casa. Quando eu olhei para fora, avistei ele desferindo os golpes no meu amigo afirmando que ele teria mandado alguém lhe agredir”, relembra assustado.
Ainda de acordo com o comerciante, Renato falava a todo o momento que não teria feito nada para Edinei, mas mesmo assim ele não cessava as agressões. “Ele recebeu um golpe na mão e no braço ao tentar se defender. Desesperado, ele correu para fora da casa, mas caiu no quintal e foi golpeado no peito e na cabeça. Eu ainda cheguei a gritar mandando o agressor parar, mas ele não obedeceu. Renato correu para a residência da vizinha e caiu no chão. Ele afirmava que queria aceitar Jesus porque iria morrer. De imediato eu o coloquei no meu carro e o socorri para a UPA”, disse.
Depois do ataque a Renato, Edinei voltou para casa, sendo seguido por uma testemunha que avisou à PM. No local, ele recusou-se a se entregar, atacou os policiais e foi atingido por seis tiros. Levado ao Pronto-Socorro João Paulo II pelos próprios policiais, Edinei teve duas paradas cardíacas e morreu. A casa onde morava, permanece fechada e nenhum vizinho foi encontrado pela reportagem.
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Investigações

O delegado responsável pelo caso, Vinicius Lucena, aguarda as vítimas serem liberadas pela equipe médica para colher mais informações sobre como cada uma foi atacada e o local exato. Apenas Gerson Rocha de Carvalho, de 50 anos, prestou depoimento, pois ele teve apenas ferimentos leves e recebeu alta no mesmo dia. “Nós estamos aguardando as vítimas receberam alta para podermos colher o depoimento de cada uma e saber como e onde elas foram atacadas e assim, descobrir exatamente qual foi o trajeto de Edinei”, diz.

Hospitalizados

No último boletim médico divulgado, cinco das sete vítimas levadas ao Hospital João Paulo II permanecem na unidade, apresentam melhoras. Um paciente, no entanto, ainda está em estado grave e continua na UTI. Todos já passaram por procedimentos cirúrgicos. Dois foram transferidos para o Hospital de Base.